Como entusiasta do tema, li uma vez uma definição muito pertinente para esse negócio: “startups são um grupo de pessoas à procura de um modelo de negócios repetível e escalável, trabalhando em condições de extrema incerteza” – pura verdade. E nesse artigo vou falar de como as práticas de gestão ajudam os founders e suas startup.
É possível acrescentar o fato de que o fundador (chamado de founder), muitas vezes tem domínio sobre o produto e/ou a tecnologia embarcada, mas são poucos aqueles que realmente entendem como operacionalizar uma empresa e os processos críticos que irão suportar o seu funcionamento. E sem isso, o foco que é preciso ter principalmente no início de uma startup se perde facilmente.
Penso que ao iniciar uma startup não é apenas importante entender se o seu produto resolve algum problema real, mas também saber em como essa solução irá viabilizar uma empresa sustentável que gerencia a sua engrenagem garantindo a operacionalização e crescimento no mercado.
Devemos compreender que cada startup possui uma dinâmica muito específica e própria, e por isso, tem uma trajetória independente que não permite generalização, mas em algum momento todas irão se deparar com uma série de desafios de gestão, incluindo:
- Incerteza: as startups operam em um ambiente incerto e volátil, com muitos riscos e continuidades, e, portanto, os líderes devem ser capazes de lidar com a emoção e tomar decisões rápidas e bem controladas;
- Mentalidade empreendedora: o Brasil ainda não possui uma cultura de empreendedorismo tão forte quanto em outros países, o que pode afetar o desenvolvimento e o crescimento das startups;
- Gerenciamento de tempo e de sobrecarga: num primeiro momento, geralmente o fundador é quem absorve todas as demandas do negócio e responsabilidades múltiplas, inclusive validando o produto e executando as tarefas de gestão e suporte. É importante gerenciar o tempo de forma eficiente e priorizar as tarefas mais importantes, mas lembrando que as outras tarefas, em algum momento, também, precisam acontecer;
- Desenvolvimento de produto: muitas startups estão desenvolvendo um novo produto ou serviço, o que pode ser um processo complexo e demorado. Os líderes das startups precisam garantir que o produto atenda às necessidades dos clientes e seja lançado no mercado o mais rápido possível, mas dentro de um conceito de MVP (mínimo produto viável);
- Capitalização: as startups geralmente têm recursos limitados e precisam gerenciar cuidadosamente seus recursos financeiros, o fluxo de caixa e a alocação de recursos de forma eficiente. Além disso, obter financiamento pode ser um grande desafio para startups brasileiras, especialmente em estágios iniciais de desenvolvimento, o que pode dificultar a contratação de talentos, desenvolvimento e as vendas do produto e a expansão das operações;
- Regulamentação: as startups precisam estar cientes das leis e regulamentações que se aplicam às suas atividades, pois a burocracia no Brasil pode dificultar o registro e operação de startups. Os líderes precisam garantir que a empresa esteja em conformidade com todos os normativos legais relevantes uma vez que as regulamentações trabalhistas, fiscais e de saúde e segurança podem ser complexas e onerosas;
- Parcerias: as startups podem precisar de parcerias estratégicas para crescer e expandir seus negócios, e dessa forma os líderes precisam encontrar parceiros capazes e estabelecer relações de confiança com eles;
- Escala: muitas startups começam com uma equipe pequena e que cresce rapidamente. O desafio é garantir que a empresa possa escalar sem perder a cultura e os valores que exponenciaram o negócio. Esse ponto pode ser desafiador, especialmente em um mercado como o Brasil, onde as infraestruturas e o ambiente de negócios podem ser menos influentes do que em outros países;
- Gerenciamento de talentos: as startups competem com empresas maiores pelos melhores talentos, o que pode ser um desafio. É importante que as startups desenvolvam uma cultura atraente, um ambiente de trabalho desafiador, positivo e de desenvolvimento profissional, além de uma remuneração competitiva para atrair e reter talentos;
- Marketing e vendas: as startups precisam encontrar uma maneira eficaz de comercializar e vender seus produtos ou serviços. Isso pode ser um desafio, especialmente se a empresa estiver competindo com empresas maiores e mais protegidas;
- Gestão da mudança: as startups precisam estar preparadas para mudanças rápidas e frequentes. Os líderes precisam ser flexíveis e capazes de se adaptar rapidamente às mudanças no mercado e nas condições empresariais;
- Concorrência: o mercado de startups no Brasil é altamente competitivo. Muitas startups estão competindo pelos mesmos recursos, pelas mesmas linhas de captação de recursos, e pelo mesmo nicho de mercado, o que pode tornar difícil conquistar clientes e obter vantagem competitiva;
- Tecnologia: a falta de tecnologia em certas áreas pode ser uma barreira para a inovação em startups brasileiras. Também é importante entender como o registro de patentes e propriedade intelectual funcionam para que os líderes não encontrem problemas e indisponibilidade que podem afetar o seu produto;
- Governança: muitas startups só identificam a necessidade de discutir as regras societárias, papéis e responsabilidades dos sócios após a fase de validação do produto no mercado, e isso pode gerar um risco de comprometer o percentual de ativos disponíveis e/ou gerar disputas pois cada um vai valorar a sua contribuição de formas distintas ou divergentes.
No intuito de deixar essa trajetória um pouco mais leve, com mais aprendizados do que traumas, acredito ser interessante antecipar práticas organizadas numa trilha que podem ajudar os fundadores a estabelecer um roadmap de demandas, que serão importantes em cada estágio de maturidade do negócio.
Se pensarmos em uma startup que está no estágio de validação – MVP, por exemplo, seria prudente antecipar tópicos de 04 pilares de gestão que irão direcionar a startup para um crescimento sustentável e que inclusive, irão dar segurança aos fundadores e investidores. São eles:
- Estratégia e mercado
- Econômico-financeiro
- Governança
- Competências socioemocionais
Em relação a estratégia e mercado, o fundador deve aprofundar o seu conhecimento sobre o mercado, clientes potenciais e sua jornada, especificação dos produtos ofertados, proposta de valor a ser entregue e como o seu modelo de negócio se sustentará. Dessa forma mais do que entender o seu produto, se faz necessário compreender o seu negócio, e se ele vai entregar um valor percebido pelo seu cliente.
No pilar econômico-financeiro é importante estruturar um plano de negócio que reflita as necessidades críticas relacionadas à processos, equipes e infraestrutura, projetando custos, despesas, investimentos, além da expectativa de ganhos e receitas pelo menos nos curto e médio prazos. Com esse instrumento, a startup consegue de maneira menos dolorosa o acesso às linhas de financiamento e dar clareza aos investidores acerca dos resultados esperados.
Em relação ao pilar governança é importante pensar nos requisitos de constituição da empresa e regramentos quanto a direitos e deveres dos sócios, incluindo as primeiras reflexões sobre o propósito da organização. Registrar marcas, assegurar propriedade intelectual, e organizar práticas referentes aos funcionários, bem como a relação com clientes e parceiros estratégicos. Também começa a ser importante ter mecanismos de controles internos e indicadores mínimos adequados para apuração de resultados e eventual prestação de contas a terceiros. Vale ressaltar, que a governança deve trabalhar para o negócio e não o contrário, e, portanto, deve-se pensar em modelos a partir do traço cultural da startup e disponibilidade dos sócios e fundadores.
Por fim, no pilar de competências socioemocionais é necessário entender como as atitudes e habilidades dos líderes deverão ser desenvolvidas, e aprender a buscar as competências a serem exigidas pelo negócio no futuro. Lidar com frustrações, tensões e expectativas diariamente é um aprendizado contínuo, e quase sempre o fundador não vem de carreiras corporativas, mas é uma pessoa que entende muito da solução, e do dia para a noite, se tornam donos de empresas, tendo que gerenciar pessoas e processos desconhecidos. Essa mudança exige reflexões e comportamentos que nascem a partir de mentorias e apoio especializado. Para superar esses desafios, as startups brasileiras precisam ser resilientes, flexíveis e inovadoras em sua abordagem.
Se a startup já consegue alicerçar a gestão nos pilares apresentados, a jornada dela será menos dolorosa, porém não mais curta. As práticas de gestão além de trazerem maturidade organizam os problemas a serem enfrentados evitando surpresas ou antecipando necessidades, trazendo mais segurança e transparência para fundadores, investidores, parceiros e funcionários.
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