27 de julho de 2021 | Leitura: 3min
É fato que o uso de algoritmos apoiando os diversos processos de negócio das organizações irão alterar atividades e funções. Mas é muito importante, assim como diversas outras tecnologias que acompanharam a história, que esta também seja incorporada pelas organizações, pelas pessoas, pelas formações nas universidades. Muito mais crítico do que o receito dessas novas tecnologias, é a não incorporação delas, pois outros participantes do setor utilizarão e o mercado demandará, e quem ficar de fora, perderá competitividade.
Luiz Gustavo Sedrani – Sócio fundador da 3gen
Por ser uma tecnologia recente para uso nas organizações, ainda há muitas incertezas de como ela impactará o dia a dia, os processos, os negócios, os recursos. Muitas organizações não sabem o que fazer ou como se preparar para essa realidade, assim como muitas pessoas não sabem como isso afetará o seu trabalho e o seu futuro. O que temos visto é que muitas funções operacionais já podem e já estão sendo substituídas por tecnologias associadas a inteligência artificial. Um exemplo são os fiscais das áreas rotativas de estacionamentos nas vias públicas. Até alguns meses, em várias cidades, víamos fiscais checando os vidros dos carros para verificar se o talão da zona rotativa estava válido e caso contrário, a multa era aplicada. Hoje, em algumas cidades, já podemos ver carros com uma serie de câmeras instaladas nele já fazendo esse trabalho. O carro passa, filma as placas, converte a imagem em texto por OCR (do inglês Optical Character Recognition ou, em português: Reconhecimento Óptico de Caracteres), checa se o motorista comprou o serviço rotativo no aplicativo, e caso não tenha comprado ou já tenha vencido o prazo, a multa é aplicada. Isso é feito em dezenas de carros por minuto, aumentando assim consideravelmente a produtividade e a escala de execução do processo. Este é só um exemplo entre milhares do que a inteligência artificial pode fazer com processos mais operacionais.
Por outro lado, atividades e processos menos operacionais podem fazer uso da inteligência artificial para melhorar a qualidade das entregas (outputs), a qualidade das decisões, a produtividade dos recursos, trazendo para o processo, modelos mais preditivos, que antecipem acontecimentos. Imagine que uma pessoa começa a ter uma dor abdominal, entra no aplicativo do hospital para o qual está indo, e já começa um “check-in” incluindo informações da sua situação e do seu estado físico. Imediatamente, o hospital recebe essas informações e já estima, por meio de modelos preditivos com uso da inteligência artificial, qual a chance dessa pessoa precisar de uma cirurgia e internação em UTI ou quarto, verificando a disponibilidade para tal procedimento (diagnosticado inicialmente pelo algoritmo). Assim que essa pessoa chega ao hospital e passa pela triagem e pelo médico, novas informações são cadastradas e o algoritmo atualiza as chances de precisar de uma cirurgia ou internação, e segue assim após exames, até ter um diagnostico final. Esse ciclo ajuda a equipe de triagem e os médicos pois assim que o paciente chega já sabe quais são possíveis diagnósticos ajudando o identificar riscos e a velocidade com que o paciente precisa ser atendido, ajuda o centro cirúrgico a se preparar um determinado procedimento, ajuda a logística a preparar os kits que um procedimento como esse utiliza, ajuda a equipe de gestão de leitos a se preparar com a disponibilização de quarto para internação, e assim por diante, fazendo com que cada processo seja mais eficiente, produtivo, assertivo.
Cada vez mais, a utilização da inteligência artificial estará embutida nos processos de negócio. E para isso, será necessário que as organizações desenvolvam recursos tecnológicos e as pessoas desenvolvam competências capazes de entender o negócio e converter isso em soluções. É fato que esta mudança não é apenas a implementação de uma nova tecnologia. É a implementação de um novo jeito de realizar os processos de negócio. Ou até mesmo, um novo jeito de fazer com que o negócio se mantenha sustentável. Horas gastas com trabalhos repetitivos e operacionais já podem ser trocados por algoritmos, por robôs, e outras soluções relacionadas a data Science e a inteligência artificial. E horas gastas para criar e preparar análises tanto referente ao passado quanto visões mais prescritivas já podem ser gastas em análises questionando os resultados gerados com uso da inteligência artificial. Utilizando um exemplo bem do dia a dia. O Waze é uma das ferramentas que mais usamos no Brasil para auxiliar motoristas comuns na roteirização. Uma vez colocado a origem e o destino, o aplicativo dá uma visão de quanto tempo levará o trajeto. Se quiser conhecer outras possibilidades, ao clicar em rotas, outras opções aparecem, e se você julgar que outra rota será melhor, você apenas troca, tudo isso com informações em tempo real do que está acontecendo. Mas e se você quiser saber qual horário deve sair da sua origem para chegar no seu destino daqui 4 horas? Essa resposta é dada utilizando inteligência artificial e uma grande massa de dados de como diferentes rotas se comportaram nessa faixa de horário escolhida para chegar. Ou seja, a inteligência artificial do Waze já analisou as possibilidades, e agora caba ao decisor, analisar e tomar a decisão.