22 de julho de 2021 | Leitura: 4min
RUY FLÁVIO DE OLIVEIRA – SÓCIO DA 3GEN
Fala-se muito das características necessárias ao líder, e inclusive já escrevemos sobre o assunto aqui na Revista da 3GEN, mas hoje vamos falar sobre erros de liderança.
Nenhum líder é perfeito, obviamente (ninguém, líder ou não, é). Erros são cometidos om maior frequência que gostaríamos, mas o fato é que, digamos, erros em decisões, por exemplo, fazem parte do dia a dia do líder. Aliás, cometemos erros em nossas decisões por vários motivos, inclusive por influência do ruído, como já abordamos na resenha sobre o livro “Ruído – Uma Falha no Julgamento Humano”. Na verdade, o erro também tem sua utilidade para o líder, que tem a oportunidade de aprender com seus erros, e assim, melhorar seu desempenho futuro.
Mas alguns erros de liderança não deveriam ser cometidos. Uma, porque são bastante triviais de serem evitados. Outra, porque o aprendizado que deles advém, pode ser mais facilmente (e muito menos dolorosamente) obtido com um pouco de estudo prévio e cautela.
Vejamos alguns desses erros de liderança a serem evitados.
1. Não ter uma visão clara para a organização.
Quem é a organização? Para que existe, qual seu propósito? A que posição a organização almeja? Essas são perguntas fundamentais, que devem orientar a cada minuto, a cada segundo, as decisões e os direcionamentos do líder. Quando o líder não tem clara essa visão, a organização perde o rumo.
Ah, e não precisa ser um líder “visionário” (apensar de que se for, isso ajuda muito, obviamente). Não é necessário que o líder enxergue o futuro com a clareza de um Steve Jobs. Ter uma visão é diferente de ser um visionário, e não ter uma visão clara para a organização é bem mais prejudicial que não ser um visionário.
2. Não ouvir.
Esse erro ocorre de várias formas, e por vários motivos, mas sintetiza vários problemas. O líder que não interage com os liderados, não ouve; o líder que não é humilde, não ouve; o líder que é inacessível, não ouve. O líder que não está disposto a continuar aprendendo sempre, não tem interesse de ouvir. E por aí vai.
O líder que não ouve, perde um conjunto de dados, fatos e informações que são, em última instância, absolutamente fundamentais para que as decisões que toma sejam as melhores possíveis. Sim, liderar é realizar, claro, mas essa realização é melhor quando o líder ouviu antes de tomar sua decisão.
3. Não direcionar a cultura da organização.
A cultura da organização emerge das atitudes de todos os colaboradores. É importante entender, portanto, que a organização vai, quer se faça alguma coisa ou não, desenvolver uma cultura própria.
Uma das principais responsabilidades do líder é moldar a cultura da organização. Vislumbrar uma cultura de inovação, de arrojo, de ética, de proatividade, por exemplo, é bem bacana, mas esse tipo de cultura não surge naturalmente, só com o dia a dia da empresa. Esses valores precisam ser incutidos em toda a organização, senão os elementos que costumam surgir são bem menos “edificantes” e certamente muito mais deletérios para a organização.
O líder deve viver a cultura que quer incutir, e demandar que todos da organização façam o mesmo.
4. Não desenvolver talentos.
Uma organização não se resume ao seu líder (nem uma diretoria, em uma gerência, nem um time, e por aí vai). Ao contrário, a organização é a soma de seus talentos, o que demanda que talentos sejam desenvolvidos o tempo todo.
O principal responsável pelo desenvolvimento de talentos é, sem sombra de dúvida, o líder. Ele deve identificar o potencial de seus liderados e fazer o possível para que esse potencial se desenvolva.
O líder que por alguma razão negligencia o potencial de sua equipe — por medo de ser substituído; porque teima em achar que seus liderados são exclusivamente recursos de produção; porque não tem tempo, ou qualquer outra desculpa inaceitável — coloca a organização como um todo em risco.
5. Descansar no topo.
Esse é um erro que, por mais que pareça óbvio na teoria, muitos são os líderes que o cometem na prática. Acontece assim: a organização planeja, age, luta muito e por muito tempo, e em determinado momento atinge o que chama de “sucesso”. A partir daí, o líder passa a agir com o objetivo de manter esse sucesso, entendendo que suas ações não podem tirar a organização do ponto que atingiu. A mudança, nesse contexto, passa a ser vista como um elemento a ser evitado. Aquela mentalidade de “em time que está ganhando, não se mexe”, entende?
Raciocínios do tipo “não posso pôr em risco nossos resultados”, “não posso renunciar a esse revenue stream em prol de uma coisa nova, que eu nem sei se vai dar certo mesmo”, “tenho que ter cautela para que um produto novo não canibalize meu cash cow” começam a surgir sutilmente, e em pouco tempo compõem o status quo e, pior, mudam a cultura da empresa. Erro crasso. O líder pode até não querer que as coisas mudem, mas todas as organizações que não estão no topo, querem. E vão fazer tudo o que for possível para reverter essa situação.
O líder tem que liderar na cultura de inovação e mudança, pois as evidências são claras e bem óbvias: só a mudança é uma constante, e quem não muda sua realidade em seu favor, vai ter sua realidade mudada em favor de outros.
Essa lista — que nem de longe é exaustiva, diga-se de passagem — já aponta para um caminho bastante útil ao líder. Ao evitar pelo menos esses erros de liderança, o gestor direcionará sua organização em um caminho que tem excelentes chances de levar ao sucesso (e de manter a empresa nesse sucesso, uma vez atingido).
Ainda assim, uma dica fundamental para o líder — que hoje é solenemente ignorada por líderes do mundo todo — se faz necessária. É o seguinte:
Entenda que a organização não existe no vácuo.
Sim, o líder ter responsabilidade sobre sua organização, obviamente. Sim, é pelo sucesso da organização que se mede o sucesso do líder, e é a organização que paga o salário do líder. O líder tem que manter isso em mente, obviamente.
Contudo, a organização tem responsabilidades para com os clientes que vão além do quanto esse cliente gera de bottom line para a organização; tem responsabilidade para com a comunidade em que atua (e quanto maior o alcance da organização, maior essa comunidade; tem responsabilidade para com o meio ambiente, para com o país, para com uma gama gigante de players. E não é porque vários desses players não geram faturamento que deixam de ser importantes.
O líder falha em seu papel quando olha apenas para o umbigo de sua organização, potencialmente deteriorando a imagem dessa organização e assim colocando a própria organização em risco.
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