01 de dezembro de 2022 | Leitura: 13min
O que é que eu estou fazendo aqui?
Quando essa pergunta surge, assim, desse jeito, “o que é que” ao invés de “o que”, é porque a coisa não está bem. Quem pergunta “o que eu estou fazendo aqui?”, no mais das vezes, está procurando uma definição. Olha para o local (ou a situação) e busca um propósito para si de forma positiva. “Como eu posso ajudar?”, “como essa situação pode me ajudar?” são sinônimos de “o que eu estou fazendo aqui?”, e o objetivo é olhar para frente e realmente encontrar respostas.
RUY FLÁVIO DE OLIVEIRA – SÓCIO DA 3GEN
Já a pergunta “o que é que eu estou fazendo aqui?” é mais uma afirmação do que uma pergunta, e os sinônimos são “eu não deveria estar aqui” ou “não tem propósito nenhum eu estar aqui”.
Quem olha para o par romântico e se pergunta isso está claramente ciente de que o relacionamento está em risco (ou simplesmente já acabou). Quem olha a organização em que trabalha e faz essa pergunta, muito provavelmente vai começar a procurar outro emprego. Ou seja: quem se pergunta “o que é que eu estou fazendo aqui?”, no mais das vezes já está se vendo fora de lá, e as chances são grandes de que essa saída seja para melhor.
Infelizmente, não é sempre que é assim. Existem situações em que o indivíduo não só não tem como mudar para melhor, como não deveria se sentir — irrecuperavelmente — no lugar errado.
Uma situação dessas, em especial, chama a atenção: a escola.
Tanto porque nenhum aluno jamais deveria sentir que seu lugar não é a escola, quanto porque no Brasil — no sistema público de Educação, principalmente — isso é bastante comum. Quem trabalha com Educação entende bem essa situação e tem uma descrição sucinta e precisa para ela: falta ao aluno o senso de pertencimento.
Há várias razões para que este sentimento se construa, se avolume, e leve — como muitas vezes acontece — à evasão escolar, mas podemos sintetizá-las em dois pontos principais:
- O aluno sente que o que tentam lhe ensinar não tem nada a ver com sua realidade e não tem qualquer utilidade para enfrentar os problemas que a vida lhe apresenta diariamente;
- O aluno não se sente acolhido ou, pior, se sente hostilizado, tanto por seus pares quanto pelos profissionais da escola.
Diante dessas realidades (ou de alguma variação delas)…
O aluno se desestimula, perde desempenho rapidamente, e depois de algum tempo se vê do lado de fora da escola, contemplando entrar para o mercado de trabalho sem um ferramental intelectual mínimo que possa lhe apresentar um caminho equilibrado para o futuro.
Desnecessário dizer, claro, que esse é um fenômeno — a falta de senso de pertencimento — que ocorre tanto no ensino público quanto no ensino privado, contudo, no ensino privado o aluno, no mais das vezes, é instado por seus pais/responsáveis a continuar na escola, o que a longo prazo é sempre a decisão mais acertada.
O que fazer para aumentar o senso de pertencimento do aluno?
O que fazer para que ele se sinta “em casa” na escola? É claro que seria melhor que todas as escolas do país fossem como as melhores escolas particulares, com infraestrutura de primeiro mundo, professores muito bem remunerados que são apaixonados por educar e fazem das tripas o coração para que os alunos se apaixonem por aprender. Infelizmente, a realidade é bem outra.
Mas o que fazer, então, diante dessa realidade, tão desfavorável?
Uma forma que vem comprovando sua efetividade nesses últimos anos vale a pena ser estudada por secretarias de educação em todos os rincões do país: a formação socioemocional de nossos alunos?
Socioemocioquem? É isso mesmo: formação socioemocional.
Em algum momento de sua vida — no mais das vezes quando você era criança, se teve a oportunidade de ter pais presentes e dedicados — você recebeu sua formação socioemocional. O que significa isso? Significa que você aprendeu, entre outras coisas:
- O que é organização e a ser organizado(a);
- O que é respeito, a ser respeitoso e a demandar o respeito devido a você;
- O que é foco e a ter foco na hora de realizar as diversas ações que demandam sua atenção;
- O que é empatia e a ter empatia pelos outros;
- O que é tolerância à frustração e a ultrapassar seus obstáculos sem se frustrar e desistir quando falhar, mesmo que repetidas vezes.
E por aí vai.
Só que aquilo que você aprendeu — de seus pais, de amigos que realmente se importam com você, da vida em si — muitos de nossos alunos não estão aprendendo, por falta de alguém que cuide que aprendam. É aí que o desenvolvimento socioemocional intencional entra em cena.
Temos visto nos projetos de desenvolvimento socioemocional que implementamos em tantas secretarias estaduais e municipais de educação que este é o melhor “antídoto” contra a falta de senso de pertencimento do aluno.
À medida que o aluno entra em contato com suas características socioemocionais, ele se descobre.
Colocado no leme de seu desenvolvimento socioemocional — quando ele “assume o protagonismo”, segundo o jargão que usamos —, o aluno se conhece mais pofundamente, estabelece uma cadência para se descobrir e se melhorar, e aos poucos vai trilhando a jornada evolutiva do desenvolvimento socioemocional.
Ao perceber que lhe falta foco, ele luta por desenvolver o foco, e assim começa a utilizar melhor seu tempo, a se esforçar mais. A entender que o outro é como ele, com os mesmos direitos, os mesmos deveres, os mesmos anseios, os mesmos medos, as mesmas inseguranças, ele passa a ser mais empático. Os exemplos são inúmeros de como o estudante se beneficia de compreender-se e desenvolver-se socioemocionalmente, mas certamente o senso de que a escola faz sentido, que ele deve de fato estar lá, e que lá vai educar-se (ao invés de só aprender “coisas chatas”) é um dos principais.
Já ouvi isso em vários momentos, da boca dos próprios estudantes: Teresina, Mato Grosso do Sul, Fortaleza, Mogi das Cruzes, Marau, Lucas do Rio Verde, São Luís, e tantos outros. Estudantes sendo transformados e colaborando para a transformação da Educação nas comunidades em que vivem. Estudantes entendendo que a escola é a extensão de seu lar, e uma das principais colaboradoras para sua formação integral, para que sejam cidadãos integrais no futuro que os espera.
O que eu nunca vi? Eu nunca vi — e penso que nunca vou ver — um estudante perguntando “o que é que eu estou fazendo aqui?”, referindo-se à escola, depois de iniciar a jornada de seu desenvolvimento socioemocional.
Não acredita em mim? Leia um pouco mais sobre esta potente ferramenta (o Instituto Ayrton Senna tem vasto material em seu site sobre este assunto), conheça os exemplos já crescentes em número aqui no Brasil, e depois me conte. Ou melhor: depois passe você também a lutar para que as secretarias de educação que atendem seu estado e seu município passem a trabalhar o desenvolvimento socioemocional dos alunos da região. A Educação do país e o futuro dessa geração agradecem.
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