12 de maio de 2022 | Leitura: 6min
Balela, besteira, conversa mole para boi dormir. Estes termos definem um tipo de comunicação que pode ser confundido com “mentira”, mas que na prática difere fundamentalmente da mentira. E é sobe esse conceito, o conceito de “balela”, que versa o livro The Life-Changing Science of Detecting Bullshit (em tradução livre: A Ciência Revolucionária de Identificar Balela), do pesquisador e psicólogo John Petrocelli.
Ruy Flávio de Oliveira – Sócio da 3GEN
Definindo a Balela
A definição de balela, apresentada por Petrocelli é simples e coerente: é a comunicação com pouca ou nenhuma consideração pela verdade, conhecimento estabelecido ou evidência. O autor diferencia a balela da mentira apontando que quem propaga uma mentira sabe o que é a verdade e se preocupa com ela, mesmo que seja para escondê-la. Já quem propaga a balela, não se preocupa com a verdade e, no mais das vezes, acredita na própria balela sem se preocupar em verificar sua veracidade.
Por que a balela é tão comum?
O propagador de balela não se preocupa em verificar a veracidade do que está dizendo, e chega a negar fatos e evidências que contradizem sua balela. E por quê? O autor oferece algumas explanações importantes para esse comportamento:
- Interiormente, criamos e nutrimos um conjunto de crenças que, independentemente de serem congruentes com a realidade, geram nosso senso de self e nossa noção de mundo. Tendemos a criar narrativas (e a adotar narrativas externas) que são congruentes com nosso conjunto de crenças, e quanto mais uma narrativa reforça nossos pontos-de-vista, menos serão suscetíveis de averiguação factual. Mesmo que não sejam verdades, nós as propagaremos, contribuindo para a perpetuação da balela;
- Somos seres sociais, e a validação social muitas vezes é mais importante que a defesa da realidade. Daí nossa propensão a não confrontarmos a balela quando ela chega aos nossos ouvidos.
- Somos orgulhosos e não gostamos de “perder” discussões. E muitos casos, recorremos à balela para “alicerçar” nossos argumentos.
Categorizando a balela
Petrocelli divide a balela em três categorias de acordo com os danos que pode causar:
Balela e mentira
O autor ‘bastante enfático quando afirma que a balela é mais perigosa que a mentira, pois enquanto o mentiroso tenta explicitamente esconder ou distorcer a verdade, a verdade pode ser verificada e o mentiroso, exposto. A balela também pode ser verificada, claro, mas o clima que se cria quando a balela é aceita é altamente prejudicial. Ao aceitarmos balela sem a denunciarmos (porque não tem clima, porque não tem importância, porque não queremos ofender o outro etc.) tornamos mais fácil a próxima balela. Com o passar do tempo, a balela passa a ser aceita, e o que se cria é uma sociedade em que os fatos valem menos que o discurso assertivo. Se a pessoa dispersa sua balela com confiança, tudo bem…
O antídoto contra a balela
Petrocelli apresenta um antídoto certeiro contra a balela: o pensamento crítico.
O pensamento crítico é, para usar uma metáfora, uma caixa de ferramentas, e não uma ferramenta só. É um conjunto de ações e comportamentos que podemos (devemos) desenvolver de forma a nos tornarmos impermeáveis à balela. O hábito de checarmos as fontes das informações que recebemos, o hábito de verificar dados apresentados, o hábito de lermos notícias em mais de uma fonte (e em fontes independentes umas das outras), tudo isso contribui para que desenvolvamos o pensamento crítico.
Sem pensamento crítico, o discurso se deteriora, a opinião passa a valer mais que o fato (um erro gravíssimo), e ficamos mais coletivamente “burros”.
Pensar criticamente é fundamental para o progresso da Humanidade.
Como lidar com a balela?
O autor apresenta algumas regras básicas para lidarmos com a balela, não no sentido de “vencermos a discussão”, mas sim para que aos poucos possamos remover esse estorvo de nossas conversas.
Regras para se lidar com a balela:
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