Não é segredo para ninguém que a educação brasileira poderia se beneficiar — e muito! — de um profundo processo de reforma com vistas à sua melhoria. Por exemplo, embora disciplinas acadêmicas tradicionais, como matemática e ciências — as chamadas STEM —, tenham recentemente se tornado o foco do desenvolvimento curricular, muitos educadores e especialistas agora defendem a inclusão de competências socioemocionais nos currículos escolares. E muita gente já está se preocupando com isso.
A adoção de competências socioemocionais no currículo, contudo, é mais fácil de ser posta no papel do que de ser tirada do papel e posta em ação a sala de aula. Existem inúmeros obstáculos que as instituições educacionais enfrentam ao tentar fazê-lo, e navegar por esses obstáculos requer muito planejamento e muito esforço.
Vejamos alguns desses obstáculos:
Quais são as competências socioemocionais?
Em primeiro lugar, há o desafio de definir quais as competências socioemocionais a serem trabalhadas em sala de aula. Embora a maioria dos educadores concorde que competências como empatia, foco, perseverança, autoconsciência e regulação emocional são importantes, ainda há muito debate sobre quais competências devem ser priorizadas e como devem ser desenvolvidas. A BNCC propõe um conjunto dessas competências, mas várias outras entidades trabalham com seus próprios “pilares socioemocionais”.
Todas essas entidades têm abordagens interessantes, agrupando e promovendo as competências socioemocionais de uma forma própria. Contudo, a falta de unidade pode gerar dúvidas nas instituições de ensino, dificuldades essas que não deixam claro o caminho a ser seguido. Sem uma compreensão clara do conjunto de competências socioemocionais a serem desenvolvidas é difícil para as escolas obterem progressos significativos nessa área.
Como colocar em prática as competências socioemocionais?
Outro obstáculo é dificuldade de colocar em prática os conceitos do desenvolvimento socioemocional. A essa altura o desenvolvimento socioemocional é um assunto conhecido — e bastante discutido — no meio educacional, contudo, apesar de ser comum o conhecimento de o que é o desenvolvimento socioemocional, poucos educadores têm o conhecimento sobre como se implementa esse desenvolvimento.
Em outras palavras, a teoria é de conhecimento geral (ainda que superficialmente e apenas em seus conceitos basilares), mas o caminho para a implementação prática em sala de aula do desenvolvimento socioemocional é um assunto que pouquíssimos conhecem. O ideal, aliás, seria que esse conhecimento se tornasse política pública na rede de ensino, ultrapassando as fronteiras de mandatos eletivos e cargos comissionados, só que dessa realidade estamos ainda mais distantes.
Com que recursos é feito a implementação dessas competências?
Há também a questão dos recursos necessários à implementação do desenvolvimento socioemocional nas instituições. É notório que as instituições públicas de ensino carecem de todo tipo de recurso, inclusive de tempo para implementação de novos projetos, e adicionar o desenvolvimento socioemocional ao currículo pode ser uma perspectiva assustadora por ser mais um leão a ser enfrentado em uma selva já tão inóspita que é o cenário da educação no Brasil.
A incorporação de competências socioemocionais ao currículo pode exigir que as escolas reavaliem suas prioridades e tomem decisões difíceis sobre o que priorizar e o que cortar.
Como avaliar resultados das competências socioemocionais?
Finalmente, há o desafio da avaliação. Ao contrário das disciplinas acadêmicas tradicionais, as o desenvolvimento socioemocional pode ser difícil de medir e analisar, correlacionando o desenvolvimento socioemocional com o desempenho acadêmico e o desenvolvimento integral do aluno como cidadão.
Em outras palavras, a dificuldade de mensuração pode tornar difícil para as escolas avaliar se os alunos estão progredindo nessa área e se os esforços da instituição para o desenvolvimento socioemocional estão tendo um impacto significativo nos alunos.
Com todos esses obstáculos, vale a pena?
Apesar desses obstáculos, no entanto, existem muitas razões convincentes pelas quais as escolas devem considerar a adoção do desenvolvimento socioemocional no currículo.
Estudos têm mostrado que os alunos que desenvolvem suas competências socioemocionais têm maior probabilidade de sucesso acadêmico, têm melhores resultados de saúde mental e estão mais preparados para o sucesso no mercado de trabalho.
Como superar os obstáculos?
Para superar esses obstáculos, as instituições de ensino — secretarias estaduais e municiais de ensino, sobretudo — podem precisar adotar uma abordagem holística para o desenvolvimento do currículo. Isso pode envolver trabalhar em estreita colaboração com educadores, alunos, membros da comunidade e instituições especializadas no desenvolvimento socioemocional para chegar a uma compreensão clara do que são competências socioemocionais e como elas podem ser desenvolvidas de maneira eficaz.
Também pode envolver investir no treinamento e desenvolvimento profissional de professores e reavaliar as prioridades da escola para garantir que as habilidades socioemocionais recebam o tempo e a atenção que merecem.
Em última análise, a adoção de competências socioemocionais no currículo não é uma tarefa fácil. Requer planejamento cuidadoso, colaboração e disposição para assumir riscos e tentar novas abordagens. Mas os benefícios de fazer isso são claros, e as escolas que forem capazes de incorporar com sucesso as competências socioemocionais ao currículo estarão mais bem equipadas para preparar os alunos para o sucesso em todas as áreas da vida.
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