14 de outubro de 2021 | Leitura: 3min
Muitos de nós, quando éramos crianças, tínhamos os pais sempre na “marcação cerrada” com relação às coisas da escola: “Menino, é hora de fazer lição, desliga a televisão”, “Menina, não tira sarro na colega, não: entenda que ela leva uma vida difícil, ponha-se no lugar dela”, “Ué? Só porque errou o exercício vai largar tudo? Nada disso, volta lá e tenta de novo. Quer que eu te explique outra vez?” e por aí vai.
O que a gente não sabia é que toda essa “chatice” tinha um propósito enorme: lançar as bases de nossa evolução socioemocional.
Ruy Flávio de Oliveira – Sócio da 3GEN
Se hoje a gente consegue realizar trabalhos complexos sem nos distrairmos, é porque lá atrás aprendemos a ter foco;
Se hoje conseguimos entender os direitos do outro e perceber que esse outro sofre tanto quanto a gente, é porque ganhamos a capacidade de sermos empáticos; se hoje a gente se vê em meio a um problemão, mas ao invés de nos desesperarmos a gente arregaça as mangas e vai em frente até conseguir resolver, é porque desenvolvemos a tolerância à frustração. E assim ganhamos várias competências, que hoje — décadas depois de termos saído da escola — nos são muito úteis.
As competências socioemocionais são o que os pesquisadores chamam de “competências transferíveis”.
É assim: se eu me formo em engenharia civil e meu dia-a-dia é fazer cálculos estruturais para alicerces de casas e prédios, se algum dia eu decidir que gosto mesmo é de medicina e faço uma faculdade para poder clinicar, não vou conseguir transferir minha capacidade de fazer cálculos estruturais para meu novo trabalho. Já o foco que eu desenvolvi na infância, pode — e deve — ser transferido, pois é uma ferramenta útil em qualquer contexto profissional ou pessoal. O mesmo se dá com a empatia, com a tolerância à frustração e com todas as demais competências socioemocionais que eu tiver desenvolvido.
Mas o que são, na prática, essas tais competências socioemocionais?
O Instituto Ayrton Senna define as competências socioemocionais como sendo as capacidades individuais que se manifestam nos modos de pensar, sentir e nos comportamentos ou atitudes para se relacionar consigo mesmo e com os outros, estabelecer objetivos, tomar decisões e enfrentar situações adversas ou novas. Elas podem ser observadas em nosso padrão costumeiro de ação e reação frente a estímulos de ordem pessoal e social. Entre outros exemplos, estão a persistência, a assertividade, a empatia, a autoconfiança e a curiosidade para aprender. Exemplos de competências consideradas híbridas são a criatividade e pensamento crítico pois envolvem habilidades socioemocionais e cognitivas.
E olha: estamos vivendo um momento bem complicado da História tanto do nosso país quanto do mundo todo. A pandemia não veio para ficar, mas nesses dois anos criou complicações para o planeta inteiro. Nossos filhos em idade escolar que o digam, pois viram sua Educação truncada, seu mundo limitado à casa, suas interações relegadas às videoconferências no computador. O resultado é devastador: de acordo com pesquisa da OCDE, nossos índices educacionais no brasil regrediram ao patamar que estavam em 2010. Perdemos uma década em termos de Educação!
É nesse contexto que as competências socioemocionais são de grande auxílio, pois são ferramentas bastante úteis para que a meninada não perca o aproveitamento escolar de que seu futuro depende.
Algumas das competências socioemocionais são fundamentais para que o estudante mantenha seu equilíbrio e assim não prejudique sua própria formação. O foco e a persistência, por exemplo, são fundamentais nos momentos desafiadores; a responsabilidade é muito importante para que o estudante possa fazer sua autogestão; a tolerância à frustração e ao estresse ajudam a administrar os sentimentos nos momentos mais complicados.
O Instituto Ayrton Senna trabalha com dezessete competências socioemocionais, dividindo-as em cinco pilares, ou macrocompetências, como pode ser visto na figura:
Resiliência Emocional
Segundo as definições do Instituto Ayrton Senna, a Resiliência Emocional está relacionada à capacidade de alguém lidar com as próprias emoções, demonstrando equilíbrio e controle sobre suas reações emocionais, como por exemplo raiva, insegurança e ansiedade, sem apresentar mudanças bruscas. Pessoas com maior nível dessa competência confiam mais em suas capacidades para desenvolver tarefas e regular suas emoções. Já aquelas com níveis mais baixos tendem a ser emocionalmente mais instáveis, afetando-se facilmente pelas situações cotidianas. Pode ser difícil para elas voltarem a um estado emocional de tranquilidade uma vez que tendem a ser mais irritadiças, ansiosas e impulsivas. Podem apresentar também dificuldade em confiar em si mesmas e em seu potencial, preocupando-se em não alcançar as expectativas.
Ainda segundo o Instituto, indivíduos que desenvolvem resiliência emocional conseguem lidar com situações adversas com tranquilidade e positividade. Quando confiam em si mesmos e são capazes de gerenciar suas emoções, são menos propensos a se desestabilizarem frente a opinião dos outros, críticas, situações desafiadoras ou aquelas que não estão sob seu controle.
Abertura ao Novo
O Instituto Ayrton Senna define Abertura ao novo como sendo a tendência a ser aberto a novas experiências estéticas, culturais e intelectuais. O indivíduo aberto ao novo tem atitude investigativa, é curioso sobre o mundo, flexível e receptivo a novas ideias. Aprecia manifestações artísticas e estéticas diversas, busca entender o funcionamento das coisas em profundidade, pensa de formas diferentes e desenvolve ideias criativas e não convencionais. Pessoas com alta abertura ao novo são mais hábeis em inovar e ter novas percepções sobre o mundo, aprender com erros e mostrar empolgação em criar.
Professores mais abertos ao novo, de acordo com o Instituto, têm paixão por aprender, entender e explorar novas ideias. Interessam-se por perguntas e experiências dos estudantes, se empolgam em compartilhar novos conhecimentos e inovam suas práticas de ensino. Utilizam múltiplas estratégias para explicar o conteúdo e criar diferentes exemplos de modo a contemplar a diversidade de estudantes em suas muitas dimensões.
Autogestão
Mais uma vez, segundo o Instituto Ayrton Senna, Autogestão indica a capacidade de ser organizado, esforçado, ter objetivos claros e saber como alcançá-los de maneira ética. Relaciona-se à habilidade de fazer escolhas na vida profissional, pessoal ou social, estimulando a liberdade e a autonomia. Quem é capaz de exercer mais a autogestão apresenta-se como alguém mais disciplinado, perseverante, eficiente e orientado para suas metas.
Professores com autogestão bem desenvolvida, segundo o Instituto, têm mais facilidade em estruturar e gerenciar o processo de ensino e de aprendizagem, planejam com cuidado e antecedência suas aulas e atividades e monitoram o tempo, o que faz com que tenham mais sucesso na mediação dos conteúdos junto aos estudantes. São pontuais, organizados e lidam bem com a elaboração e o monitoramento de combinados que beneficiem o aprendizado, deixando claro aos estudantes o que se espera deles, realizam sínteses ao fim da aula e revisam o conteúdo antes de momentos avaliativos.
Amabilidade
O Instituto Ayrton Senna define Amabilidade como sendo uma macrocompetência que indica o grau com que uma pessoa é capaz de agir baseada em princípios e sentimentos de compaixão, justiça, acolhimento; o quanto consegue conectar-se com os sentimentos das pessoas e se colocar no lugar do outro. Refere-se à tendência a agir de modo cooperativo e não egoísta, preocupando-se em ajudar os demais e ser solidário. O indivíduo amável apresenta preocupação com a harmonia social e valoriza a boa relação com os outros. É geralmente respeitoso, amigável, generoso, prestativo e disposto a confiar nas pessoas.
Engajamento com os outros
Por fim, o instituto Ayrton Senna define Engajamento com os outros como sendo a macrocompetência que diz respeito à motivação e à abertura para interações sociais e ao direcionamento de interesse e energia ao mundo externo, pessoas e coisas. Essa macrocompetência ajuda a nos mantermos abertos e estimulados para conhecer e dialogar com as pessoas, a nos manifestarmos de maneira afirmativa e assumirmos a liderança quando necessário. A pessoa que apresenta essa macrocompetência bem desenvolvida busca ativamente o contato social, é amigável, segura, energética e entusiasmada.
As Competências Socioemocionais na sala de aula
Desde 2018 a 3GEN — em parceria com o Instituto Ayrton Senna — vem implementando o programa Diálogos Socioemocionais em várias secretarias estaduais e municipais de educação, Já centenas de milhares de estudantes no Brasil todo que se beneficiam das competências socioemocionais. O resultado aos poucos vai aparecendo: maior senso de pertencimento à escola, melhor aproveitamento escolar. Até na família e na comunidade em que a criança se insere os resultados são perceptíveis.
Para finalizar, veja esses depoimentos colhidos junto à Secretaria Municipal de Educação de Sobral-CE sobre as competências socioemocionais:
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