19 de agosto de 2021 | Leitura: 3min
É absurdo o tamanho da polarização que vivemos. Rótulos voam à velocidade do som, arremessados a torto e a direito, independente da idade, da escolaridade, da ideologia, da classe social, da etnia, do gênero, da religião ou de qualquer outra característica do indivíduo ou do grupo. Cada um tem seu modo de pensar, e uma vez que se chega à conclusão do que é “a verdade”, nada mais importa a não ser a questão: “você está comigo ou contra mim?”
Porque se você não pensa como eu, é meu inimigo. Esse é o estado das coisas. Entenda sobre a resenha “Pense De Novo”.
Ruy Flávio de Oliveira – Sócio da 3GEN
Há exceções, claro, mas não são nem muitas, nem fáceis de se achar.
Mas é justamente a exceção a esse estado das coisas que deveríamos buscar. Essa polarização gera tribos, gera inimigos, gera animosidades absurdas, que no mais das vezes são deletérias ao país, à sociedade e — mais amplamente — ao mundo.
O livro “Pense De Novo”, de Adam Grant, lançado no começo de 2021 busca mudar essa perspectiva. O convite é simples: o que você acha do assunto xyz? Tem uma opinião formada? Que tal revisitar sua opinião, com base em dados e fatos imparciais? Que tal admitirmos que não sabemos tudo, e que nossas opiniões podem estar alicerçadas em premissas errôneas, ou mesmo incompletas?
Adam Grant é especialista em psicologia organizacional
E leciona disciplinas ligadas a esse assunto na famosa Wharton Business School, nos EUA. Seu enfoque é simples: ao invés de rejeitar a possibilidade de estarmos errados, deveríamos abraçá-la. Admitir essa possibilidade é a chave para o aprendizado e um dos alicerces do pensamento crítico, tão em falta nos dias de hoje. O autor argumenta — com base em sólidas evid6encias científicas — que a capacidade de “repensar” pode ser ensinada e deve ser aprendida, e em seguida se dispõe a apresentar o caminho para esse aprendizado.
E se eu estiver errado?
Essa pergunta é a base para o aprendizado, mesmo se no fim das contas o que aprendermos for “puxa, é assim mesmo”. Mas o questionamento não pode começar com a premissa de que a conclusão vai ser que estávamos certos o tempo todo, e esse é o maior desafio. Nos afastarmos de nossas crenças enquanto nos questionamos não é nada fácil. Considerarmos o outro lado da questão (ou os outros lados, se for mais de um) como sendo igualmente válidos de consideração é algo que fere nossa visão de mundo. Ou seja: no fundo nos consideramos os donos da verdade, e o fato de que você imediatamente rejeitou essa afirmação é uma demonstração simples de como é difícil nos afastarmos dessa noção.
Essa é a essência da primeira parte do livro: explicitar porque é tão difícil pensar diferente, e apresentar formas de fazermos exatamente isso. O indivíduo “decidido”, ou “de opinião forte” entra nesse cenário em desvantagem, e o autor explora essa dificuldade. Por outro lado, ao nos dispormos a ouvir o outro lado, nos colocamos em uma posição de força. Líderes que se mostram maleáveis aos argumentos lógicos de seus liderados são mais produtivos, e a Adriana Machado, ex-CEO da GE do Brasil, nos falou exatamente sobre isso em sua entrevista para o Strategy At Work.
A segunda parte do livro mostra como podemos auxiliar outras pessoas a repensarem suas ideias, por leio do “letramento argumentativo”.
Como argumentamos de forma lógica, produtiva, e — especialmente — que faz sentido para nossos interlocutores. Não é uma panaceia que vai garantir que você consiga ganhar todas as discussões em que entrar, mas no mínimo vai te ajudar a entender se a pessoa com quem você está discutindo é permeável a argumentos lógicos.
Um exemplo claro de alguém que tem a mente aberta para argumentos novos e que se alegra em estar errado não é ninguém menos que Daniel Kahneman, vencedor do Nobel de Economia e autor de “Noise”, que já foi objeto de uma resenha minha.
A terceira parte do livro analisa por que as instituições — escolas, empresas, estruturas governamentais — não colaboram para um ambiente em que a dissidência é recompensada, e mostra os problemas que essa falta nos causa. Bom, nem é preciso irmos muito longe para enxergarmos os efeitos deletérios da incapacidade de repensarmos nossas ideias ou de pelo menos aceitarmos que pensamentos divergentes tenham méritos. Basta olhar para o triste estado de polarização que mencionei no início dessa resenha.
Mudar esse triste estado das coisas não é tarefa fácil, mas mudar como pensamos é menos complicado, e o livro “Pense De Novo”, de Adam Grant, será uma excelente forma de começar essa jornada. E aí? Que tal dar esse primeiro passo?
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